Interactive Stories/Rashia
As gotas finas da chuva iam ficando cada vez mais escassas. A queda da temperatura era suave, mas constante. Saindo lentamente de seu abrigo, Rashia se enrolou em sua manta precária. O frio ainda não era muito intenso, mas ela sabia que era melhor se proteger. A última coisa que ela podia querer era pegar um resfriado.
A fome já começava a incomodar. Felizmente, o fim da tarde já estava chegando, trazendo consigo o momento em que a filha do padeiro costumava lhe dar algo para comer. Na época do frio, geralmente era um pouco de sopa, sobra do almoço, que a boa moça aquecia e lhe servia, num canto da cozinha. Rashia a tinha como uma irmã mais velha, ainda que raramente interagissem por mais que alguns minutos.
A moça não podia fazer muito mais que aquilo. Seu pai, o padeiro, era um homem sério, cheio de regras, muito preocupado com o bom andamento dos negócios. Não era exatamente mau. Mas certamente não gostaria muito de saber que sua filha recebia uma pessoa estranha em seu estabelecimento. Por isso as duas faziam tudo para que sua amizade ficasse em segredo.
Rashia aproximou-se da padaria a passos lentos. Por um instante a leve brisa tomou força, fazendo com que a menina tremesse de frio. Da rala chuva que tinha caído aquela tarde já não havia mais nenhum sinal.
Enquanto avançava, Rashia já ia imaginando a refeição que teria dentro de alguns minutos. Certamente ela apreciava as escassas frases que a moça trocava com ela. Costumava ser a única comunicação que ela tinha com um ser humano o dia todo. Mas a fome era muito mais física e a possibilidade de aplacá-la era muito mais prioritária que qualquer outra necessidade.
Ao chegar perto da padaria, o suficiente para conseguir ver a vitrine e um pouco do que acontecia lá dentro, Rashia teve um sobressalto. A disposição dos itens estava diferente do usual. E não havia as costumeiras flores penduradas do lado de fora.
Era costume da moça deixar sempre algumas flores na parte externa da vitrine, como decoração. Aquilo também servia para dizer a Rashia que ela poderia entrar, pois o padeiro já tinha ido embora. Como ele ia para o trabalho de madrugada, para preparar o pão que seria vendido de manhã bem cedo, ele ia embora pouco depois do horário de almoço, deixando o estabelecimento aos cuidados da filha. Rashia costumava esperar pelo menos umas duas horas antes de ir até lá, para garantir que não teria problemas.
Ao notar a falta das flores, Rashia se lembrou de que, na tarde anterior, sua amiga tinha lhe dito que não se sentia muito bem, que talvez estivesse ficando resfriada e podia mesmo vir a ficar de cama. Rashia lembrou-se também de que não tinha visto sua amiga chegar à padaria aquela manhã.
Ao se aproximar ainda mais da padaria, Rashia percebeu que, lá dentro, a figura enorme do padeiro se aproximava da porta. Ela imediatamente mudou de rumo, assumindo uma trajetória que não se aproximasse mais do estabelecimento, dando a entender que ela estava apenas passando pela rua.
Porém, no momento em que ela passava bem em frente à porta, esta se abriu. Rashia, que já vinha bem lenta, assustou-se com o barulho, parando por um momento.
Por um instante, por um segundo, seu olhar fixou-se nos olhos do gigante de avental que tinha saído pela porta. De braços cruzados, o sujeito parecia uma torre de guarda, indicando que por ali ninguém poderia passar. Durante um segundo o mundo parou. Durante um segundo aquelas duas criaturas tão diferentes se comunicaram sem palavras. Em seu pouco tempo de vida a menina já tinha acumulado uma experiência considerável em situações como aquela. Tanto que ela podia imaginar o que aquele homem de aparência quase medonha poderia estar pensando.
O que acontece em seguida? | ||||
⇒ Rashia fica em silêncio... | ⇒ Rashia pergunta pela filha do padeiro... | ⇒ Rashia pede alguma coisa para comer... |